10 de agosto de 2011

ela não gostava de notícias cheias de surpresas. ele sempre foi curioso. fazia tempo que não se falavam ao vivo, só por telefone. e ele disse: precisamos conversar, é importante e tem que ser cara a cara. então desligou, sem ao menos dizer tchau nem o lugar do encontro. e ela, que não era curiosa, roeu todas as suas unhas recém feitas.

não sabia onde era o encontro, não queria ligar de volta pra não mostrar ansiedade, não imaginava o teor da conversa e preferia que esse telefonema não tivesse acontecido.

dois dias depois ele voltou a ligar, com a mesma pressa e sem dar pistas sobre o que queria dizer. mas dessa vez disse onde era pra se encontrarem e ela foi.

ela chegou no parque de patinete, seu novo xodó. ele chegou de carro, terno e suando frio. ela ficou desesperada quando percebeu que a notícia era mais séria do que ela imaginava. subiu no patinete e foi em sua direção.

agora estavam cara a cara, como ele havia pedido. sem dizer uma palavra ele a abraçou, chorou, tirou o paletó, limpou o suor frio da testa com a mão. continuaram em silêncio e seguiram andando pelo parque. nenhuma palavra foi dita. nenhum suspiro foi dado. continuaram andando.

depois de algum tempo ele segurou a sua mão, mas nenhuma palavra era dita. ela não aguentava mais, precisava saber o motivo daquele choro, daquele suor. ele sempre foi tão reservado, tão seguro e de repente estava ali tão vulnerável...

resolveram sentar perto do lago, ele a abraçou de novo, chorou de novo. não suava mais, parecia um pouco mais calmo. mas aquele choro apertava seu coração. como ela poderia ajudar ele sem ao menos saber o que o deixara tão triste.

deitou no seu colo, olhou para o céu e viu a lua já a postos, mesmo às quatro e meia da tarde. o céu estava aberto, o dia alaranjado, mas nos olhos dele o dia estava pesado e triste. e ela não queria se precipitar e perguntar o que ele tanto precisava falar. e ficaram ali, em silêncio, ouvindo os sons da cidade, que rodeava o parque. ela então resolveu deitar na grama, com ele apoiado sobre seu colo. e ficaram ali quietos, esperando o sol se pôr.

quando ele disse que precisava ir, ela não questionou. não perguntou o que ele tanto precisava falar. ele confirmou que o porto seguro dele era ela. que ela o tinha como amigo sem querer nada em troca. o telefone dele tocou, ele se afastou pra falar.

quando o sol já tinha ido totalmente embora ele a tomou nos braços e a beijou. ela não esperava, nem queria aquele beijo. sentiu que foi uma despedida. despedida do que? ela nem sabia ao certo. nunca foram namorados, haviam se beijado algumas vezes, eram amigos e na carência se tornavam verdadeiros amantes mas eram adultos e sabiam que não existia nada além disso. achavam?

seguiram de volta para o carro dele. de lá ela seguiria pra sua casa e ele para dele. ela então perguntou: está melhor? o que está acontecendo? ele então a segurou com firmeza pelo braço, olhou bem nos seus olhos e disse: vou me casar e não podemos mais nos ver.

ela ficou muda. ele chorava. ela não entendia nada. pensava e sorria com certa ironia "será que estou em um filme de almodovar?". queria chorar, mas não sabia ao certo porque. ela achava que eles eram só amigos mas ele estava muito abalado. ela então chorou profundamente no ombro dele, sendo afagada. eles eram cumplices, amigos e agora teriam que se distanciar, mas porque?

ela subiu novamente no seu patinete e seguiu para sua casa. era perto do parque, ela não queria carona. mas aquilo martelava na sua cabeça. ia casar. ela não sabia que ele estava namorando. nem noivo. nem que pretendia casar. que loucura era essa? o que estava acontecendo?

então ela percebeu que eles se amavam e que ali era o fim daquele amor. eles moravam na mesma cidade, tinham alguns amigos em comum e isso faria com que eventualmente se encontrassem, mas ela não queria mais pensar nisso. e chegou em casa e escreveu. e chorou. e sarou.

meses depois ela recebeu um email dele contando sobre a vida. que havia casado no fim de semana seguinte que tinha estado com ela, que estava de mudança pra boston, sua esposa estava grávida e queria ficar perto dos pais. e entre outras atualizações pessoais virtualmente, ele se despediu e prometeu sempre mandar notícias. ela chorou. queria notícias sim, era seu amigo e ela o queria bem. não entendia direito o porque da necessidade de não se verem, mas aceitava.

assim ficaram por quase dois anos, quando eles se encontraram na california. ele de ferias com a familia, ela de lua de mel. no momento que se encontraramm ao acaso estavam desacompanhados. se abraçaram e sentaram pra tomar um café. conversaram muito, atualizaram suas vidas. e então ele chorou.

mais uma vez foi triste. dessa vez se abraçaram e nunca mais voltaram a se encontrar. e assim ficaram.

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