20 de setembro de 2010

XI

Não sou eu quem descrevo. Eu sou tela.
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la.
E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro de mim gela,
E o leve outono, e as galas, e o marfim,
E a congrugência da alma que se vela
Com sonhos pálios de cetim?

Disperso... E a hora como um leque feche-se...
Minha alma é uma arco tendo ao fundo o mar...
O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se

E, abrindo as asas sobre Renovar,
A erma sombra ao vôo começando
Pestaneja no campo abandonado...


Fernando Pessoa, Obra Poética V, Cancioneiro



Já que eu tô pensando muito, demais, além do que eu posso, um poeminha, aberto ao acaso, de Pessoa. E claro, me disse muito.

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